70 Anos da conquista da Agulha de Itacolomi
A Pedra Mãe e a Agulha de Itacolomi, com seus 1091 metros de altitude, localizadas no município de Magé, formam um conjunto que é facilmente identificável quando transitamos pela rodovia Rio Teresópolis.
Esta formação dificilmente terá passado despercebida pelos valorosos montanhistas do CEB que percorriam semanalmente toda a Serra dos Órgãos e as elevações da vizinhança nos anos trinta, conquistando boa parte delas. No entanto, provavelmente devido a sua dificuldade, somente foi nos anos 40 que se iniciou a conquista da Agulha de Itacolomi que duro cinco longos anos.
Itacolomi em tupi guarani significa “pedra com filho” ou “menino de pedra”, daqui surge a denominação de Pedra Mãe e Pedra Filha (a agulha) que se dá aos componentes desta belíssima dupla.
Os conquistadores deste colossal monólito foram Edmundo Braga, Alfredo Maciel e Guanahyr Alves do Amaral.
Colaboraram: Francisco Vasco dos Santos, Helio Barroso e Waldemar Borges.
Iniciaram as explorações nos dias 1 e 2 de maio de 1943. A pesar dos horários das conduções, que não combinavam (ninguém ia de carro), e das trilhas inexistentes que iam sendo abertas, nem sempre no sentido mais favorável à
conquista. Em 01/11/1943, no vigésimo quarto aniversário do CEB, foi colocado o primeiro grampo, na investida por uma via que mais tarde se mostraria infrutífera.
Nos primeiros lances da subida foi achado um troço de corda que se suspeita foi deixado por Wilfred Bendy, canadense, sócio do CEB e conquistador, dentre outros, do Dedo de Nossa Senhora junto com sua esposa Sylvia.
Mais alguns grampos foram colocados nesta via que aos poucos foi mostrando ser inviável, pois devia transpor uma saliência (talvez em negativo), o que a técnica da época não permitia superar.
Mas nada desalentou aos primeiros exploradores Edmundo Braga e Waldemar Borges, tentaram outra rota enfrentando agora um longo paredão de praticamente 90º. Iniciaram esta via em 22/02/1944, e trabalharam nela
incansavelmente durante quatro longos anos, cravando 95 grampos (pítons), nos quais seria afixado posteriormente um longo cabo de aço de 5/8” e junto a este outro cabo de aço de ¼” que seria utilizado como “corda de segurança”. Nada foi deixado ao azar, e quando terminou a conquista foi colocado no topo um guincho manual, para facilitar a subida de pertences e de montanhistas menos experientes, infelizmente todo este material praticamente já não existe.
O árduo trabalho de cravejar 95 pítons numa parede vertical de 65 metros fez necessário que muitas vezes alguns dos conquistadores tivessem que abandonar o acampamento-base e voltar ao Rio para mandar amolar as brocas, retornando no meio da noite, por trilhas longas e difíceis, para continuar os trabalhos no dia seguinte.
Em cada investida carregavam mochilas de 25 kg com todas as tralhas necessárias para passar vários dias junto ao paredão, avançando nos trabalhos. Não faltavam nas rações latas de sardinha, goiabada, farinha, e alguma branquinha para temperar as longas e frias noites de acampamento.
Finalmente no dia 12 de junho de 1948 Edmundo Maciel crava o último grampo e alcança o cume junto com Guanahyr Alves, após acalorados abraços que sintetizavam os cinco anos de infatigável trabalho. Soltam bombas e fazem tremular a flâmula do Centro dos Excursionistas, como era chamado o CEB, pois na época a denominação Brasileiro somente era permitida para organismos oficiais.
A noticia correu como regueiro de pólvora e a poucas horas a Sra. Vera Barroso, esposa do Helio, recebia telefônicamente a notícia da conquista, colocando em alvoroço toda a comunidade montanhística do Rio de Janeiro,
como o demonstram os numerosos telegramas e notas de felicitação que começaram a chegar imediatamente ao CEB.
Diz o relatório dos conquistadores:
“Precisamente às 15:40 do dia 12 de junho de 1948 conseguimos pisar o cimo desta Agulha, depois de permanecermos acampados em sua base durante sete dias ininterruptos, com o intuito de aproveitar melhor o tempo para os serviços finais de grampeação do seu extenso paredão”.
Em fim, um exemplo de perseverança e amor à montanha que se prolongou durante um lustro.
É uma pena que, passados 70 anos, esta belíssima agulha, sua escalada e seu cume sejam muito pouco visitados.
Texto: Horacio Ragucci é Guia do CEB
Fotos: Acervo do CEB, Horácio Ragucci e Alexandre Mihorance