Achar perto do Rio de Janeiro trilhas e lugares que ainda não tenham sido percorridos pelos desbravadores do CEB é uma missão quase impossível; no entanto, com um misto de paciência e perseverança, o impossível às vezes acontece. Assim Nasaré e eu, após duas explorações (na primeira ajudados por Lucia Maciel e Paulo Góes), conseguimos montar um circuito que denominamos “Serra da Calçada – Mirante do Imperador – Porangaba”.
Este circuito percorre parte da calçada que transpõe a garganta existente entre a Serra da Calçada e a Serra do Itaguaçu, na área da Serra do Matoso em Itaguaí – RJ. Por volta do ano de 1700, chegar a São Paulo do Rio de Janeiro vindo por terra era uma tarefa quase impossível, por causa da barreira natural criada pela Serra do Mar. Para que a viagem se tornasse mais rápida, o então governador Luiz Vaía Monteiro ordenou que fosse aberto um caminho através da serra de Itaguaí. Esta calçada, que parece ter sido construída pelos Jesuítas baseados na Fazenda de Santa Cruz, foi utilizada pelo imperador D. Pedro I em 1822, por ocasião da sua viagem a São Paulo, para proclamar a independência do Brasil. Por aqui passou também o naturalista francês Auguste de Saint’Hilaire, no início do século XIX.
Nossa excursão, no dia 15/11/2009, iniciou-se na Praça da Bandeira, de onde prosseguimos até o final da Av. Brasil. A partir daí percorremos
mais 13 Km pela BR101 (Rio Santos), até chegar à estrada dos Teixeiras, continuando em seguida pela Estrada do Cacau e a Estrada dos Caçadores. A um pouco mais de 6 Km desde a BR 101, estacionamos os carros e iniciamos nossa caminhada, subindo pelo caminho calçado com pedras que outrora fazia parte do caminho para São Paulo.
O sol apareceu com força e nos obrigou a avançar em ritmo lento até chegar ao início da trilha que leva ao “Mirante do Imperador”. Perto deste ponto ainda pela calçada se encontra uma enorme pedra que ostenta em letras de bronze os dizeres “Prezidencia do Rio de Janeiro 1822”. Um pequeno grupo foi visitar esta inscrição, e os demais participantes, conduzidos por Nasaré, continuou rumo ao mirante, passando por uma trilha ora bem definida ora um tanto fechada.
O belo mirante, situado numa altitude de aproximadamente 600 m, é formado por um conjunto rochoso aonde se chega passando por cima de alguns troncos encostados num paredão. Infelizmente, o sol, que agora era necessário para apreciarmos a paisagem, se escondeu atrás um denso nevoeiro, que somente se dissiparia depois de abandonarmos o mirante. Voltamos à trilha que seguimos até chegar a uma casa desocupada cuja varanda aproveitamos para fazer o lanche. A partir deste ponto inicia-se a descida por uma belíssima trilha, que desce pelo vale que acompanha o Córrego São Sebastião, em cujas águas nos refrescamos, quase no final da caminhada, já bastante cansados. A trilha termina na Reserva Particular do Patrimônio Natural de Porangaba, unidade de conservação que preserva uma pequena área intocada de Mata Atlântica.
Horacio Ragucci